terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Website: Divulgação ou Negócio?

O site Futebol Finance publicou recentemente o ranking dos websites de times de futebol mais visitados no mundo, tomando como base o número de visitantes únicos diários, por ano, conforme pode ser visto no quadro a seguir. 
Em milhões de visitantes


O Manchester United, segundo o instituto IPSOS, é o time de maior torcida na Inglaterra, com 16%, vindo a seguir Liverpool com 12 %, Arsenal com 10% e Tottenham com 6%.
Já no ranking de visitas a websites, o Arsenal tem um desempenho melhor do que o do Liverpool, sendo que o Tottemham nem aparece, ao contrário dos seus rivais Chelsea, Aston Villa e Manchester City.
Na Itália, o instituto Doxa, estima que as maiores torcidas sejam: Juventus com 31 %, Internazionale com 22%, Milan com 16,4 % e Roma com 6%. No ranking de websites, a Juventus tem um número de visitantes menor do que Inter e Milan.

Situações similares são encontradas em outros países:
Turquia - A torcida do Fenerbache é maior que a do Galatasaray, a situação se inverte no ranking da Futebol Finance, .
Alemanha - O Borussia Dortmund tem uma torcida menor do que a do Schalke 04, porém o website deste não aparece na lista dos 20 mais visitados.
Escócia - Os torcedores do Celtic são maioria, mas quem aparece no ranking é o rival Rangers.
Brasil - O Corinthians é o único clube listado no quadro, porém não é o time de maior torcida do país.

Para esgotar essa análise sob o foco estritamente quantitativo, vale também considerar a população de alguns países com clubes listados no ranking em questão. Entre parêntesis está a classificação de cada um, ou seja, o Brasil é o 5º país mais populoso do mundo.
Sob esse prisma temos na ordem: Brasil (5º), Alemanha (15º), Turquia (17º), França (21º), Inglaterra (22º), Itália (23º) e Espanha (32º).
Em termos de população com acesso à internet em números absolutos: Brasil (5º), Alemanha (6º), Inglaterra (7º), França (9º), Itália (12º), Espanha (14º) e Turquia (16º).
O que permite concluir que não há correlação direta entre o número de torcedores e o número de acessos ao website, sendo  a audiência de um website função do conteúdo e de seu grau de atratividade.

Voltando ao ranking da Futebol Finance, vale destacar a expressiva diferença entre o número de visitas aos websites do Manchester United, do Real Madrid e do Arsenal em relação aos dos demais.
Esse fato pode ser explicado pela maior atenção dedicada ao mercado asiático por parte desses clubes. O Manchester, por exemplo, tem seu website em inglês, árabe, japonês, chinês e coreano. O Arsenal inclui uma versão em tailandês.
Tem sido cada vez mais comum encontrar jogadores das mais diversas nacionalidades disputando os principais campeonatos europeus e asiáticos, que assim passam a ter novos seguidores oriundos dos países desses jogadores, sendo que a internet facilita o acesso a essas informações e contribui para acelerar, também no esporte, o processo de globalização.
Apesar de considerar inaceitável que grandes clubes brasileiros tenham websites "monoglotas", não creio que apenas a disponibilidade para o acesso em vários idiomas seja suficiente para se atrair um bom número de visitantes.
Entendo que para aumentar a atratividade de um website, também seja  necessário agregar ações junto aos países onde habitam o público considerado alvo. Dentre essas ações, inclui-se a realização de ações de relacionamento, torneios, amistosos e pré-temporadas nesses países, além de eventuais parcerias com clubes e empresas da região.
Diante disso, chega-se a outra conclusão, a de que é possível acompanhar outros times e websites internacionais, sem que isso implique em ser torcedor desses times.
Outro fato que caracteriza bem essa situação é o do uso de camisas de clubes de futebol de outros países por pessoas que torcem fanaticamente por seu time de coração.
Portanto, desmistificada a relação "tamanho da torcida / acesso a website", torna-se importante esclarecer mais uma vez que marketing não é uma função tática, nem tampouco é só divulgação, mas sim uma área estratégica com foco no business.
Partindo dessas premissas é mandatório que um website tenha como objetivos:
- ser um canal para o crescimento da base de torcedores e simpatizantes, principalmente os de outras localidades;
- ser fonte de receitas para o clube.

O Manchester United gera cerca de 20% de sua receita através da internet, nessa inclui-se:
  • Publicidade no website;
  • Tickets para jogos e estacionamento;
  • Pacotes turísticos voltados tanto para os torcedores que moram na cidade e desejam acompanhar o time, como para torcedores de outras cidades que queiram visitar Manchester;
  • Produtos licenciados;
  • Assinaturas da TV online, que transmite via internet os jogos da equipe;
  • Serviços e produtos para mobile phone (ringtones, vídeos, informações e etc.);
  • Cassino online;
  • Produtos financeiros tais como seguros, cartão de crédito e aplicações.

Sem dúvida, o case do Manchester United é um belo benchmarking, porém simplesmente copiá-lo, além de irresponsável, não se caracteriza como uma ação  de marketing. É necessário, antes de tudo, analisar a situação atual, definir o mercado/público-alvo, estabelecer os objetivos e metas, para daí desenvolver as iniciativas consideradas apropriadas. Obviamente que o acompanhamento dos resultados e as devidas correções fazem parte desse trabalho.

Mas afinal, "Website: Divulgação ou Negócio?" 
Ambos, pois usar um website apenas para divulgação é subutilizar a ferramenta, por outro lado, uma boa divulgação é imprescindível para a realização de bons negócios.     

                           

Um comentário:

  1. Você me conhece, Idel... pra mim tudo é conteúdo.
    Os sites esportivos tem que ter conteúdo pra trazer o torcedor/espectador de volta. É uma solução tão barata, que dá raiva ninguém seguir isso.

    A questão da transmissão de jogos no site, pacotes turisticos, cassinos... é pedir demais dos brazucas. Pelo menos por enquanto; tem tanta barreira pra isso acontecer (de lei mesmo anti aposta, de globo e direitos exclusivos e sufocantes, de tabela mal feita e pre-disposição dos outros clubes em não jogar junto...)

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