terça-feira, 5 de julho de 2016

"Custo-benefício" virou jargão

Apesar de nutrir uma certa antipatia em relação ao uso de “jargões”, não há como negar que certas expressões são realmente as mais apropriadas para algumas situações, além do que essas expressões acabam fazendo realmente parte do “idioma” de algumas profissões.
Todavia, é necessário que tais palavras sejam utilizadas com o devido conhecimento do que se trata, e não como cortina de fumaça para a falta de argumentos ou tentativas de se fazer parecer especialista no assunto.
A transferência do artilheiro Fred, que saiu do Fluminense para jogar no Atlético MG, serve como ilustração para o que pretendo abordar, pois o principal “argumento” da pequena parte dos torcedores tricolores que defendeu a decisão, se baseou na explicação de que o jogador não mais proporcionava uma boa relação custo-benefício.
Diante dessa assertiva, devo presumir que eles conheciam os custos envolvidos na remuneração do jogador, afinal de contas, são dados tangíveis.
Mas fica a dúvida: como mensuraram os benefícios que o jogador trazia ao clube? Como foi feito esse cálculo? Qual o valor que dedicaram a um gol, a um título ou mesmo a uma fuga do rebaixamento? E quanto à influência no aumento na base de torcedores? Quanto é creditado por liderar os mais jovens? Qual o peso de sua presença na decisão de um patrocínio?
Inferindo que saibam esses números, indago: qual o índice apurado nessa relação custo-benefício? Como fica esse índice quando parametrizado com os dos demais jogadores?
Indo um pouco mais longe, qual seria a relação custo-benefício ideal? Aquela que certamente norteia a contratação e desligamento dos jogadores, assim como a que é referência para a definição do prazo de cada contrato.
Por falar nisso, seria importante esclarecer as razões que levam um clube a fazer um contrato tão longo com um jogador e rescindi-lo faltando mais de um ano para seu término. Provavelmente – presumo mais uma vez – os responsáveis, baseados no histórico do jogador, fazem uma projeção calcada em algoritmos engenhosos que indicam que a curva do “ciclo de vida” dele tenha entrado numa descendente vertiginosa e assim se conclua pelo desligamento.
Na verdade, tais números e estudos não existem, o que não é demérito, a tarefa não é fácil!
No entanto, também não é difícil ser honesto e admitir que se enganaram na definição do prazo do contrato, que o planejamento foi mal feito e/ou ainda que a situação financeira exige ajustes. 
Pelo menos dessa forma passariam firmeza e credibilidade, atributos fundamentais para qualquer gestor.
O que não se pode admitir, de forma nenhuma, é que se valham de termos técnicos de economia e marketing sem o devido embasamento, e o mais grave: com o único intuito de impor suas "verdades".
A longo prazo, a relação custo-benefício dessa postura é bem negativa.




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