terça-feira, 26 de julho de 2016

Gestão não é "Big Brother"

Na semana que passou foi publicado em alguns veículos, a notícia que a federação belga de futebol estaria abrindo uma seleção pública para a escolha do novo técnico da equipe.
Não entendi muito bem se a inciativa se resumiria apenas a um anúncio de recrutamento pelo site ou se haveria uma votação popular.
De qualquer forma, penso que ambas não são adequadas.
Caso seja um mero anúncio, é de se surpreender que uma organização do porte de uma federação, cuja seleção ocupa a 2ª posição no ranking da FIFA, ainda recorra a esse método para atrair profissionais, mesmo porque, os próprios empresários dos treinadores já fazem o trabalho de “outplacement” de seus profissionais.
Porém, se o processo contempla efetivamente a “escolha popular”, a iniciativa é ainda pior, pois denota que os gestores da organização não têm, nem tiveram, a mínima experiência corporativa.
Digo isso, pois o processo de escolha de um profissional é extremamente complexo, não se restringindo apenas aos aspectos técnicos e de capacitação dos candidatos. Além desses atributos é fundamental contemplar as particularidades referentes à cultura da organização, aos perfis dos eventuais subordinados, às características dos seus chefes e, sobretudo, ao desenho de governança da instituição.
Particularidades que, posso garantir, apresentam extrema dificuldade de detecção, tanto que muitas empresas chegam a contratar headhunters para desenvolverem o processo de seleção para os cargos de maior responsabilidade.
O que quero dizer com isso é que, mesmo admitindo o lado lúdico e democrático da proposta, deixar que o clamor popular defina o profissional que liderará uma seleção, é um indício claro do não reconhecimento da importância do cargo.
Isso sem falar no lado prático da proposta.
Quem teria direito a voto? Quem mora na Bélgica ou quem é belga? Qual a idade mínima para votar?
Quem não acompanha futebol terá direito a voto? Em caso positivo, é justo que um leigo defina os rumos técnicos de uma seleção? Em caso negativo, como aferir se o “eleitor” acompanha futebol?
O fato de acompanhar futebol credencia alguém como entendedor do assunto?
Como evitar que uma mesma pessoa vote duas vezes sem que o sigilo do voto não seja prejudicado?
Como evitar que fatores ligados à empatia dos candidatos não sejam decisivos na escolha para um cargo onde empatia não é o principal atributo?
Como evitar que ocorram campanhas “eleitorais”, mesmo que informais?
Fazendo uma analogia exagerada, imaginem se a Coca-Cola, por exemplo, resolve que os consumidores dos seus produtos serão os responsáveis pela escolha do CEO da empresa? Complicado…
Na minha opinião, a notícia sobre o processo belga é uma tentativa de adaptar iniciativas cujas enquetes proporcionam aos participantes a sensação de pertencimento – uma ótima estratégia de marketing, por sinal. Porém, caberia aos gestores da organização repararem que as decisões oriundas de enquetes nunca são – ou nunca deveriam ser – relacionadas a questões de cunho estratégico.
Qualquer coisa diferente disso é reflexo da falta de estratégia, ou pior, da falta de experiência em gestão.




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