terça-feira, 6 de março de 2018

O planejamento precisa ser estratégico

Qualquer pessoa que tenha bons conhecimentos de gestão entende que o “planejamento estratégico” é fundamental para qualquer organização, no entanto, muitas organizações ainda não se deram conta dessa necessidade, o que pode ser explicado pela ignorância acerca do que efetivamente isso venha a ser, ainda que habite os discursos dos que não a utilizam.
Escrever detalhadamente sobre esse instrumento demandaria um espaço bem maior do que usualmente ocupam os textos daqui, razão pela qual serei sucinto na descrição e explorarei um case que sirva para ilustrar o conceito.
Em linhas gerais, trata-se de um processo da identificação de onde a organização está, aonde quer chegar e o que precisa fazer para isso, tendo como etapas: uma detalhada análise da situação, determinação  dos objetivos, definição das estratégias e construção de um plano de ações.
Peguemos então como tema para reflexão as ligas do futebol mundial que mais distribuíram receitas oriundas dos direitos de transmissão: Premier League  da Inglaterra – 2.753,9 bilhões de euros - e  La Liga da Espanha - 1.246,7 bilhão de euros.
A utilização desse tipo de receita como parâmetro se explica por ser ela a única que sofre forte influência das ligas, visto que bilheteria, patrocínios e comercialização de jogadores ficam na alçada individual de cada clube.
No caso da liga inglesa, o plano estratégico privilegiou o equilíbrio entre os clubes participantes, de modo que todos recebam valores expressivos e possam contratar os principais jogadores do mundo, o que aumenta o interesse do mercado e assim se consegue vender tais direitos por valores mais altos. A diferença entre o Chelsea, clube que mais recebeu em 2016-17 e o Sunderland, o que menos faturou com direitos de transmissão, foi de apenas 61,5%.
Já a liga espanhola optou pela concentração de recursos em poucos clubes para que esses pudessem ter projeção mundial. Ainda que pareça discriminatório, essa definição propicia benefícios para todas as equipes que disputam o campeonato nacional, já que os clubes “privilegiados” conseguem atrair audiência para seus jogos independentemente de quem sejam os adversários. Aqui o Barcelona - clube que mais recebeu na última temporada – faturou 272% a mais do que o Léganes, que foi o que menos recebeu.
Esse comparativo nos permite claramente ver que houve planejamento estratégico nas duas ligas, mesmo com objetivos, estratégias e planos de ações diferentes. Ao se analisar a composição de receitas dos principais clubes desses campeonatos, é possível constatar que os ingleses faturam 42% com broadcasting enquanto os espanhóis têm nessa fonte 38,8% do seu montante, já a linha de marketing (patrocínios) corresponde 38,3% e 41,7% respectivamente.
É importante ressaltar que grandes verbas, apesar de fundamentais, não se traduzem necessariamente em bons resultados, visto ser primordial que elas sejam bem geridas.
Outro aspecto a ser relatado é que a existência de um planejamento estratégico por parte da organização responsável pelos campeonatos não exime os clubes de terem o seu próprio planejamento.
No Brasil não parece haver um planejamento estratégico por parte da entidade que rege o campeonato nacional. Vemos hoje uma distribuição de receitas de transmissão capitaneada basicamente pelas emissoras, que pouco se importam em posicionar o produto. Essa distribuição, além de bastante injusta, não consegue fazer com que os clubes que mais recebam atinjam um patamar de elevado destaque seja interna ou externamente, fato que pode ter como justificativas: gestões ineficazes, montantes totais insuficientes para a contratação, baixo índice de retenção de craques que venham a impactar a audiência e, consequentemente, o valor de comercialização dos direitos de transmissão.
Reparem que a referência à gestão no parágrafo anterior não tem como causa o equacionamento de dívidas ou a geração de caixa, essa parte até que tem sido bem executada pela grande maioria dos clubes. A menção se faz justamente à falta de um planejamento estratégico que permita a união das equipes em prol de um posicionamento que valorize o produto/campeonato.




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